domingo, 30 de outubro de 2011

sem título não vale nada.

  Escrevemos para nos entendermos, ou vemos no ato de escrever uma fuga para algo que podemos nos tornar – ou queremos – e podemos desde que escrevamos sobre os nossos eus que subsistem? Eu acredito que o que eu escrevo não sendo eu, de certa maneira, já sou. Acredito que o que eu escrevo sem querer – querendo – é meu mesmo não sendo: mesmo aquilo que não posso ver, mesmo aquilo que vem dos confins que desconheço: conheço, a partir daí.
  Seria, então, um aborto provocado de sentimentos se eu, não sentindo nada, viesse expressá-los? Seria perigoso, mesmo para mim, exorbitar esses sentimentos uma vez que já estejam mortos? Mesmo que a morte que quase transparece, não seja morte, seja sono. Que seja desmaio. Que seja anseio de não voltar a sentir.
  Sentindo-se como se não sentisse. É engraçado o modo como os sentimentos conseguem essa impessoalidade impecável de sermos sem podermos explicar. Agora mesmo te digo que não sinto e logo te digo que sinto o nada. E aí tento ouvir o que o sentimento tenta me dizer: é muito baixo, não posso. Onde, mais uma vez digo: quanto mais me busco, mais me sinto perdido por não saber. E se buscar fosse esperar; e se esperar não fosse apenas aguardar por alguns dias, meses ou anos: e se fosse esperar pelo resto dos dias? Esperaria, eu? E se já não se tratasse de mim; se o que vivo e o que serei já me é inerente desde que nasci? Morreria, então, aguardando?